Unidade: Centro Integrado Nossa Senhora de Fátima
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Família Hospitaleira: conheça a história e a missão da Irmã Cecília Baltazar
Me chamo Irmã Cecília da Encarnação Rocha. O meu primeiro contato com as Irmãs Hospitaleiras foi em janeiro de 1957, quando deixei a minha família e a minha terra, uma aldeia de Portugal, chamada Alfaiates, Distrito da Guarda, Região da Beira Alta. Uma família simples, mas muito honesta e religiosa. Éramos 4 irmãos: dois rapazes e duas moças. O destino era o Colégio Apostólico “Terezinhas” onde continuaria os estudos e poderia discernir a vocação. O Colégio tinha esse nome porque estava sob a proteção de Santa Terezinha.
O primeiro obstáculo foi o olhar desconfiado da superiora ao receber-me na estação do trem em Lisboa, perante a minha pequena estatura. Confirmava a observação feita por minha mãe quando lhe falei da minha decisão de ser religiosa nessa Congregação: “a missão dessas Irmãs é cuidar de doentes mentais e tu és muito pequena para essa missão. As portas estão abertas; caso não dê certo, podes voltar".
Eu queria fazer de tudo para dar certo, porque fiquei encantada com a missão e a oportunidade de poder fazer cuidados simples aos doentes: ajuda-los na higiene, dar comida aos mais dependentes, arrumar suas camas, etc. A frase do Evangelho que dava sentido a tudo isso era de Mateus 25,40 “ Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”.
Assim decorreu o tempo no colégio entre estudos, inclusive de música, espiritualidade da Congregação e discernimento vocacional.
Em 24 de outubro de 1961 iniciei o Noviciado, que é um tempo forte de oração, formação e conhecimento da vida dos Fundadores e da Missão da Congregação.
Em 24 de outubro de 1963, após esse tempo de discernimento, confirmei o meu sim à vida Hospitaleira através dos votos de pobreza, castidade e obediência, que, além da vida em Comunidade, constituem a Consagração Religiosa. O tempo que vai da primeira profissão até à profissão perpétua, chama-se Juniorado. Nesse tempo fiz experiência na Missão como auxiliar na Secretaria da Casa de Saúde, e no serviço aos doentes; prossegui os estudos de música e, tendo como professores os médicos assistentes da Casa de Saúde da Idanha, realizei um curso de Auxiliar de Enfermagem Psiquiátrica que me deu bastante base para o cuidado e manejo com os pacientes.
Devo dizer que passei por alguns apuros, mas sempre pude entender o que me disse uma paciente esquizofrênica, minutos após uma bofetada: “Desculpa, Gininha, naquela hora o coração não era meu” Estávamos numa época em que a medicação psiquiátrica era ainda escassa e requeria uma atenção e um amor especial aos pacientes psicóticos, que nos era dado pela recomendação da nossa fundadora Maria Josefa no seu leito de morte: “tratai-as como verdadeiras mães” e São Bento Menni: “Vede nelas a pessoa de Jesus”.
Em 1967, após um período de preparação na Casa Mãe da Congregação, em Cienpozuelos, fiz a Profissão Perpétua com a alegria e a certeza que este era o caminho que eu queria para a minha vida. Meu primeiro envio foi para a Ilha da Madeira onde estive cinco anos cuidando de crianças especiais e admirando as belezas e encantos da Ilha.
Em outubro de 1972 o meu destino foi a Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima em São Paulo. Inaugurada em Março do mesmo ano. Tudo era novo: a cultura, algumas diferenças na língua, o calor excessivo, o transito maluco de São Paulo, em contraposição à calmaria da Ilha e ao clima temperado o ano todo. Em pouco tempo me senti em casa, graças à acolhida fraterna das Irmãs da Comunidade e ao calor humano do povo. Não havia tempo para muitos saudosismos, porque a missão requeria presença, cuidado, atenção aos doentes e suas famílias e ao Hospital. Tocou-me assumir a administração, junto com a Irmã Alice de Jesus Fernandes (de saudosa memória). Bastantes dificuldades no início com falta de água e outras inerentes a toda a estruturação de uma obra. No sentido de maximizar a utilização dos leitos, fizemos um convênio com a Coordenadoria de Saúde Mental que nos enviou em dois dias 100 pacientes, transferidas do complexo hospitalar do Juqueri. Aí percebemos que a Congregação tinha mesmo a missão de fazer a diferença nos cuidados aos doentes mentais, dada a condição de desumanização que recebemos essas pacientes. Com um esforço conjunto: equipe médica, equipe multi profissional e Irmãs, conseguimos, em pouco tempo reinserir na família mais de 30 pacientes. Foi um período muito trabalhoso, mas gratificante.
Em 1981 exerci a mesma missão na Casa de Saúde Nossa Senhora do Caminho por 17 anos. Nesse período conclui o Bacharelado em Administração Hospitalar.
Afim de compor a Comunidade Formativa em Campina Grande do Sul – PR em dezembro de 2003 formamos ali uma comunidade vivendo no meio do povo numa casa alugada. Foi uma experiência maravilhosa, pois fui descobrindo que o carisma da HOSPITALIDADE, vivido com coerência, frutifica em qualquer “terreno”. Depois de algum tempo assumi a secretaria da Paróquia Nossa Senhora de Fátima e ali eu podia escutar, acolher, servir... Com aquele povo fizemos uma família. Com o tempo fez-nos companhia a Ir. Regiane enquanto cursava Enfermagem em Curitiba, assumimos a Pastoral da Saúde da Paróquia, a Irmã Fernanda fez um trabalho maravilhoso na Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa, uma forma diferente de ser Hospitaleiras.
Em Outubro de 2015 encerramos essa Comunidade e voltei a fazer parte da Comunidade da Casa de Saúde Nossa Sra. Do Caminho e desde 2017 na Comunidade da Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima onde me sinto muito bem, apesar de não poder desenvolver de grandes atividades, participo da vida e da missão deste Centro.
O que gosto de fazer nas horas livres?
Sempre que posso gosto de passar nos setores, saudar os colaboradores, conversar com os pacientes, ouvir música e ler um bom livro.
Curiosidades sobre a minha pessoa. Como desde o início colocaram interrogações à minha capacidade para a vida Hospitaleira, eu me preocupava em mostrar que crescia. Mantinha uma marca da minha altura na parede, me media com frequência para provar às Superioras que estava crescendo.
Já em São Paulo, dirigindo uma Caravan, a polícia me parou para ver se o carro andava sozinho. Conferiu na janela e mandou-me prosseguir.