Unidade: Centro Integrado Nossa Senhora de Fátima
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Hospitalidade em Ação: CAPS Parelheiros
Segundo o relatório global The Mental State of the World in 2023, da Sapien Labs, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental em um ranking com 64 países. Os dados foram analisados com base no impacto causado pela pandemia da COVID-19 na saúde mental global, no entanto, o Brasil já tinha a maior taxa de transtornos de ansiedade do mundo em 2017.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) 5,8% da população brasileira (cerca de 11,5 milhões de pessoas) já sofria de depressão e 9,3% (cerca de 18,6 milhões de indivíduos) apresentava transtornos de ansiedade neste período.
Esses índices estão fortemente relacionados às condições de vulnerabilidade social que afetam uma grande parcela da população brasileira, como ocorre na região de Parelheiros. Fatores como pobreza, desemprego, fome, violência, desinformação e o difícil acesso a cuidados de saúde básicos contribuem para o surgimento de transtornos mentais ou seu agravamento.
Em resposta às necessidades dessa população vulnerável, as Irmãs Hospitaleiras, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, oferecem atendimento multidisciplinar gratuito em saúde mental por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). A seguir, explicamos o que é o CAPS, como ele funciona e como as Irmãs Hospitaleiras levam seu carisma e hospitalidade para beneficiar a população de Parelheiros.
Em nosso canal do Youtube, você confere a entrevista: https://youtu.be/vD5Q2BMMi3c
O CAPS e seu papel no cuidado em saúde mental
O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço de saúde mental brasileiro, comunitário e gratuito, que trata e reintegra socialmente pessoas com problemas psíquicos. O CAPS é uma iniciativa do Ministério da Saúde e opera através do Sistema Único de Saúde (SUS), integrando a rede de atenção à saúde mental no país.
O serviço preza por uma abordagem mais humanizada, tratamento individualizado, atenção psicossocial e reintegração do indivíduo na sociedade. O atendimento é realizado por uma equipe multidisciplinar, que pode ser composta de médicos psiquiatras, mas também de psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros e outros profissionais. Existem diferentes tipos de CAPS, que são classificados conforme a gravidade e as necessidades do público atendido.
O CAPS Parelheiros
O CAPS Adulto III Parelheiros opera desde 2008, atendendo a população adulta da região do extremo sul de São Paulo. O serviço é voltado para pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, oferecendo acolhimento integral 24 horas por dia.
A unidade disponibiliza atendimentos individuais, atividades em grupo e oficinas terapêuticas, como rodas de conversa, artesanato, dança e escrita. Além disso, busca fortalecer o protagonismo dos usuários e de seus familiares por meio da reabilitação psicossocial e da participação em atividades comunitárias. Desde a sua inauguração, o CAPS Parelheiros já prestou assistência em saúde mental à cerca de 11.400 pessoas.
A integração das Irmãs Hospitaleiras ao CAPS
Embora o CAPS seja uma iniciativa pública, suas unidades podem ser administradas em parceria com entidades e organizações sociais, como hospitais, ONGs, e instituições religiosas. Essas parcerias têm um papel fundamental no fortalecimento e ampliação dos serviços oferecidos e garante que as necessidades das comunidades sejam atendidas de maneira mais abrangente, especialmente em áreas de maior vulnerabilidade social.
As Irmãs Hospitaleiras atuam na gestão de diferentes unidades do CAPS, como a de Parelheiros, desde 2008. O trabalho realizado em conjunto com a iniciativa pública vai além da manutenção e funcionamento do serviço.
Compartilha-se o compromisso de promover o cuidado integral, respeitar à dignidade humana e oferecer acolhimento compassivo das populações em situação de vulnerabilidade.
Por meio deste serviço, a Congregação amplia o alcance da sua Missão Hospitaleira e transforma em ação uma de suas maiores premissas: gerar transformação social na área da saúde mental.
Dessa forma, o carisma hospitalar se manifesta sempre que alguém é acolhido com humanidade, compaixão e respeito à sua individualidade, independentemente de sua condição social. Ele também se revela quando a pessoa, mesmo dentro de suas limitações, consegue retomar seu papel na sociedade e recebe um tratamento que promove não apenas a saúde mental, mas também o bem-estar do corpo e do espírito.
O impacto do CAPS na saúde mental de populações vulneráveis
A região de Parelheiros é marcada por altos índices de vulnerabilidade social, com grande parte da população vivendo em condições de pobreza e precariedade das infraestruturas básicas. Essa realidade impacta diretamente a saúde mental da comunidade, uma vez que a falta de recursos, a violência, a insegurança alimentar, a exclusão social e a carência de oportunidades educacionais e de emprego contribuem para o desenvolvimento e o agravamento de transtornos como ansiedade, depressão e estresse.
Além disso, a região de Parelheiros está localizada em uma área afastada dos grandes centros urbanos e é composta por extensas zonas rurais, onde o transporte público é escasso e as distâncias até unidades de saúde são longas. Essas limitações dificultam significativamente a mobilidade da população, tornando o acesso a serviços de saúde ainda mais desafiador. Em um cenário como esse, a saúde mental frequentemente fica em segundo plano, sendo negligenciada tanto pelos próprios moradores quanto pelos serviços de saúde convencionais, que muitas vezes são insuficientes.
O trabalho do CAPS em regiões de vulnerabilidade social, como Parelheiros, é fundamental para garantir o acesso ao cuidado em saúde mental a populações que, de outra forma, teriam dificuldades para receber atendimento adequado. Nessas áreas, a precariedade na infraestrutura, a escassez de serviços públicos e as barreiras socioeconômicas dificultam a busca por assistência, agravando quadros de ansiedade, depressão e outros transtornos psíquicos. O CAPS atua como um ponto de acolhimento essencial, oferecendo tratamento contínuo, humanizado e próximo da realidade desses territórios, reduzindo a necessidade de deslocamentos longos e melhorando a qualidade de vida dos usuários.
Além do atendimento clínico, o impacto do CAPS vai além da saúde individual, refletindo-se em toda a comunidade. A unidade promove atividades terapêuticas e ações de reabilitação psicossocial, fortalecendo laços sociais e familiares, incentivando a reinserção dos usuários na sociedade e combatendo o estigma associado às doenças mentais. Dessa forma, o CAPS não apenas trata, mas também previne o agravamento dos transtornos mentais, contribuindo para a construção de uma sociedade mais acolhedora e consciente sobre a importância da saúde mental.
Atendimento nas comunidades indígenas
Atualmente, o CAPS Parelheiros atende a população indígena que vive em áreas de preservação desta região. O atendimento é prestado por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), localizadas na Terra Indígena Tenondé Porã, em parceria com as equipes de Atenção Básica.
As equipes realizam visitas domiciliares, atendimentos individuais e grupos terapêuticos, na própria UBS ou em espaços abertos nas aldeias, com uma frequência quinzenal. Também existe uma iniciativa que incentiva a participação dos indígenas nas atividades realizadas na unidade do CAPS Parelheiros, embora essa integração seja desafiadora devido à distância e às dificuldades de locomoção entre a reserva e o serviço.
Para garantir um atendimento mais acessível e sensível às necessidades dessa população, o CAPS conta com o apoio de Agentes Comunitários de Saúde indígenas, que desempenham
um papel fundamental na mobilização da comunidade para o cuidado em saúde mental. Além de facilitarem o acesso aos serviços, esses agentes atuam como tradutores entre o guarani e o português, promovendo uma comunicação mais clara e eficaz entre os profissionais de saúde e os usuários.
Embora a abordagem terapêutica siga os mesmos princípios aplicados à população geral, é essencial respeitar particularidades culturais para que o tratamento seja eficaz e considere a individualidade dos usuários, suas crenças e desafios específicos. Na cultura indígena, a saúde mental e a espiritualidade estão profundamente conectadas. Assim, além dos atendimentos médicos e do uso de medicações quando necessário, é comum que os indígenas recorram ao pajé — líder espiritual da aldeia — e frequentem as casas de reza como parte do processo de cura.
Essa relação entre o cuidado tradicional e a assistência em saúde mental ficou evidente em um caso recente. Uma paciente indígena, ao ter seu quadro mental agravado, foi orientada a receber um tratamento mais intensivo no CAPS Parelheiros, o que incluía a possibilidade de permanecer na unidade por alguns dias para um acompanhamento mais próximo — uma experiência inédita para ela. No entanto, antes de tomar uma decisão, a paciente optou por se afastar temporariamente para realizar rituais de cura com o pajé.
Inicialmente, essa ausência gerou preocupação entre os profissionais de saúde, que ficaram sem contato com a paciente por alguns dias. No entanto, ao retornar para o CAPS, ela apresentou uma melhora significativa nos sintomas, evidenciando a importância da espiritualidade em seu processo terapêutico. Com o tempo, tornou-se claro que compreender e respeitar as diferenças culturais é essencial para a promoção de um cuidado mais integral e humanizado.
Assim, o CAPS Parelheiros tem buscado não apenas incluir os saberes tradicionais guarani no contexto da saúde mental, mas também fortalecer sua presença no território, estabelecendo vínculos e construindo a confiança necessária para um atendimento verdadeiramente acolhedor.
O trabalho realizado pelo CAPS Parelheiros é um exemplo de como o cuidado psicológico e social pode ser humanizado, adaptado às necessidades locais e contribuir para a melhoria da qualidade de vida de quem mais precisa. Receber o tratamento adequado transforma vidas, construindo uma sociedade cada vez mais consciente sobre o papel da saúde mental para o bem-estar integral.
Se você ou alguém que conhece precisa de apoio, o CAPS oferece atendimento especializado de forma gratuita. Para buscar ajuda, é simples: procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima ou entre em contato com o CAPS da sua região. Não deixe para depois!