Unidade: Centro Integrado Nossa Senhora de Fátima
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Quebrando Estigmas: Cuidando da Saúde Mental na Libéria
No Centro de Saúde Mental St. Benedict Menni, em Monróvia, Libéria, o trabalho dos profissionais de saúde mental é essencial para oferecer cuidado e esperança às mulheres que enfrentam transtornos mentais. Ato Kwamena Sagoe, enfermeiro especializado em saúde mental e dependência química, é uma das pessoas comprometidas com essa missão. Nesta entrevista, ele compartilha sua trajetória, motivações e a importância do trabalho que realiza junto às Irmãs Hospitaleiras.
1. Bom dia, poderia se apresentar e nos contar sobre seu papel junto às Irmãs Hospitaleiras?
Bom dia. Meu nome é Ato Kwamena Sagoe, sou enfermeiro em saúde mental e especialista em uso de substâncias e dependências. Trabalho com as Irmãs Hospitaleiras desde março de 2019 como coordenador do programa. Minha principal responsabilidade é gerenciar todas as atividades deste projeto.
2. O que o motivou a se especializar em saúde mental e trabalhar com pessoas com transtornos mentais?
Sempre quis ser jogador de futebol profissional; aliás, sou um grande fã do Liverpool Football Club. Ao concluir o ensino médio, as únicas opções disponíveis para ingressar no ensino superior eram magistério e enfermagem. Ambas me pareciam interessantes, porém desafiadoras. Escolhi a enfermagem e, sendo homem, minhas opções eram mais restritas. Decidi me especializar em enfermagem em saúde mental por conta do seu enfoque específico. No meu primeiro ano de estudos, a complexidade do cérebro e seu funcionamento me fizeram me apaixonar ainda mais por essa profissão.
3. Como sua experiência em Gana influenciou seu trabalho atual em Monróvia?
Acredito que a base da minha formação foi extremamente útil. Ela me fortaleceu para enfrentar os desafios dessa profissão. Tive a sorte de fazer estágio em nosso centro em Dompoase (Gana), onde meu supervisor teve um papel fundamental — um impacto que carrego comigo até hoje.
4. O que torna o Centro de Saúde Mental St. Benedict Menni, em Monróvia, um lugar especial de recuperação?
Em Monróvia, existe apenas uma instalação de saúde mental reconhecida, administrada pelo governo, para atender mais de quatro milhões de liberianos. As Irmãs Hospitaleiras cuidam exclusivamente de mulheres, o que garante maior segurança e reduz a vulnerabilidade daquelas que vivem com transtornos mentais. A tranquilidade do nosso centro e a empatia dos profissionais garantem um atendimento centrado no paciente.
5. Quais são os maiores desafios enfrentados pelos pacientes ao se reintegrarem à comunidade após a alta?
O estigma. Acredito que seja um fenômeno global. No continente em que vivemos, ainda persiste a crença de que a doença mental tem uma origem espiritual. Aqueles que sofrem com essas condições são vistos como marginalizados, diferentes e excluídos da sociedade. Isso afeta sua motivação para continuar o tratamento, faz com que se retraiam e, em muitos casos, recaiam. O estigma que envolve a saúde mental pode impedir as pessoas de buscar ajuda. Precisamos criar uma cultura que promova a abertura, compreensão e apoio à saúde mental.
6. Poderia compartilhar alguma experiência significativa que tenha vivido?
O “Programa de Empoderamento e Mentoria Empresarial” que implementamos atualmente no nosso centro. Ele garante que os pacientes se inscrevam em um negócio ou consigam um emprego como parte do processo de reabilitação. Uma pesquisa interna revelou que pacientes empregados reduzem sua taxa de recaída para 25%.
7. Como acredita que seu trabalho contribui para a missão das Irmãs Hospitaleiras?
Trabalhar com pessoas que vivem com diferentes transtornos mentais exige empatia, compaixão e compromisso. Acredito que esses valores estão em perfeita sintonia com a missão da congregação.
8. Qual é o papel das famílias e da comunidade no processo de recuperação dos pacientes?
As famílias e comunidades desempenham um papel vital ao oferecer apoio emocional, prático e social. Famílias que compreendem que essa é uma condição que requer tratamento contínuo ajudam os pacientes a lembrar da medicação, a comparecer às consultas e a monitorar sua condição. Grupos de apoio comunitário oferecem um espaço seguro para compartilhar experiências, receber suporte emocional e aprender estratégias de enfrentamento.
9. Quais mitos sobre doenças mentais na Libéria ou em Gana você espera combater com seu trabalho?
Algumas pessoas acreditam que os transtornos mentais são um castigo divino por pecados ou comportamentos imorais, o que leva ao estigma e rejeição, ao invés de apoio e tratamento. Outros pensam que toda pessoa com doença mental é agressiva, quando, na realidade, pessoas com depressão ou ansiedade muitas vezes não têm energia nem para reagir. Há também quem acredite que, uma vez que alguém desenvolve uma doença mental, não há mais esperança. Na verdade, com atendimento médico adequado, terapia e apoio, é possível controlar a condição e ter uma vida plena.
10. Que conselho daria a alguém que deseja trabalhar ou ser voluntário no centro?
Se quiser ver as mentes mais criativas em ação, venha para a África. Mesmo com conhecimento limitado, escassez de recursos e falta de apoio técnico e financeiro para os serviços de saúde mental, seguimos oferecendo um cuidado integral. Tive a oportunidade de fazer uma experiência clínica na Espanha, onde passei por vários centros das Irmãs Hospitaleiras em Mondragón, Madri e Ciempozuelos. Foi uma experiência totalmente diferente. Aqui, mesmo sem tantos recursos ou profissionais especializados, encontramos maneiras de fazer nosso trabalho com dedicação.
11. O que gostaria que mais pessoas soubessem sobre saúde mental e sua importância?
Gostaria que mais pessoas entendessem que a saúde mental é tão importante quanto a saúde física e que devemos priorizá-la. Todos nós temos saúde mental, assim como temos saúde física. A doença mental não é fraqueza nem fracasso pessoal — é uma condição médica que requer tratamento, como a diabetes ou doenças cardíacas.
12. Há algo mais que gostaria de compartilhar com nosso público sobre sua experiência ou sobre a missão das Irmãs Hospitaleiras?
Embora os curandeiros tradicionais e líderes espirituais desempenhem um papel importante em muitas comunidades africanas, as doenças mentais geralmente requerem intervenção médica, incluindo terapia e medicação. Uma combinação de abordagens pode ser benéfica, mas ignorar a ciência médica pode ser prejudicial.